Edicões Gambiarra Profana/Folha Cultural Pataxó

domingo, 6 de maio de 2012

SILÊNCIOS RABISCADOS NA JANELA



           Já havia alguns dias que o menino olhava pela janela do quarto, que ficava no andar de cima da casa. Todos os dias antes de descer para o banho e o café,  ele abria a janela e olhava na direção da cerca de madeira, pintada de branco, bem no final da cerca, quase junto com a cerca do vizinho.  Quando estava chovendo ele não abria a janela, mas mesmo assim olhava, com um olhar temeroso, olhava como que pedindo a Deus. Todos os dias pela manhã o menino olhava pela janela e depois descia, tomava banho, café e ia para a escola. Quando voltava da escola, almoçava, assistia na tv seu programa favorito e depois passava o tempo brincando dentro de casa ou no quintal, sempre ficava brincando sozinho, não havia quase crianças onde ele morava, ficava com sua avó, sua mãe saia muito cedo pra trabalhar e só voltava tarde da noite, depois da faculdade. Seu pai há muito tempo não via, um dia foi embora, nem mesmo lembrava seu rosto. A noite ficava um tanto triste, sua avó preparava o jantar e depois do banho subia para dormir. Entrava no quarto, abria a janela e olhava para o quintal, lá na cerca, no mesmo ponto que olhava toda manhã, depois fechava a janela e orava.
- Senhor Deus cuide da mamãe e da vovó.
Depois da oração deitava para dormir e ficava se perguntando quando ela nasceria, quando brotaria.
Numa noite chovia e ventava muito quando o menino subiu para dormir, entrou no quarto e preocupado abriu a janela e viu o ponto branco que tanto esperava lá no canto da cerca, sentiu medo por ela, fechou a janela, ajoelhou e orou.
- Senhor Deus, por favor, não deixe que ela morra na chuva, e cuide também da mamãe e da vovó.
Na manhã seguinte ele acordou, a chuva havia passado, levantou, abriu a janela e olhou na direção da cerca, deu um sorriso e fez algo que sempre esquecemos quando estamos felizes, agradeceu a Deus.
- Obrigado meu Deus
Foi feliz pra escola, não se aguentava de felicidade, ela estava lá, bonita, protegida por Deus, só esperando. A noite antes de subir para o quarto, saiu pela porta dos fundos e foi no quintal, lá no canto da cerca, voltou, subiu, entrou no quarto da mãe, depois foi para seu quarto, orou antes de dormir.
- Senhor Deus, cuide minha mãe e da vovó – Ele pedia sempre por quem mais amava, esquecia até de si mesmo.
Nessa noite o menino dormiu com um sorriso nos lábios sem abrir a janela.
Ela chegou em casa tarde como todos os dias, tomou um banho, preparou algo para comer, tudo em silêncio para não acordar sua mãe nem seu filho, entrou no quarto dele, beijou seu rostinho.
- Mamãe te ama, disse baixinho
Abriu a porta do seu quarto e viu perto da cama uma tímida flor branca no jarrinho com água, seus olhos encheram de lágrimas, ao lado da flor tinha um pedacinho de papel com as doces palavras.

- Eu te amo mamãe.

Arnoldo Pimentel 
 
Esse conto faz parte da Trilogia dos Meninos
Leia os outros dois nos links abaixo


2 comentários:

  1. Ai,que lindo!Um conto sensivel, de emocionar de ternura!Parabéns,amigo!bjs,

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  2. Lindo meu amigo adoro seus textos poemas tudo enfim.]
    Um feliz final de semana.lindo Domingo das mães.

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